Armandinho - Retocando o Choro - ao vivo (2003)
Lenda das cordas brasileiras desde muito jovem (ninado no berço pelos decibéis de seu pai, Osmar Macedo),
Armandinho continua a reunir sensibilidade e técnica, choro e celebração, em seu mais novo disco,
Retocando o Choro - ao Vivo, pela Biscoito Fino. Com formação minimalista - seu bandolim personalíssimo, acompanhado apenas por um violão (quase sempre de José Paulo Becker, mas alternando também as cordas de Yamandu Costa e Fabio Nin, do Tira Poeira ), o homem que fez história no carnaval da Bahia, à frente do Trio Elétrico de Dodô & Osmar, e sedimentou o pop/rock brasileiro nos ensolarados anos do grupo A Cor do Som, volta a dar tratamento incendiário ao universo do choro.
nadaGravado em 2002, na Sala dos Archeiros, no Paço Imperial, Rio de Janeiro, o álbum mostra
Armandinho esmerilhando o choro como quem faz a ponte histórica entre a dolência das velhas noites cariocas e o frenesi do Farol da Barra, passando por influências roqueiras, de Arembepe a Woodstock.
Apanhei-te, Cavaquinho, de Ernesto Nazareth, e
Assanhado, de Jacob do Bandolim - esta, aqui numa versão de 8 minutos, presente no repertório de
Armandinho desde os anos 70 -, aterrisam nos pampas, sob a co-pilotagem de Yamandu Costa, com escalas no Rio e em Salvador. O resultado é um diálogo virtuoso e percursivo, muito além do mero malabarismo técnico, em duas versões arrasadoras. O choro pilota um avião supersônico, quilômetros adiante da carruagem do conservadorismo.
nadaNoites Cariocas adquire entonação
bluesy, aproximando Jacob de Jimi Hendrix. Outra de Jacob é
Santa Morena, um dos temas mais freqüentes nas novas rodas cariocas de choro. Ao acentuar o caráter ibérico da melodia, Armandinho também encontra outra rota arabesca, sob a oriental praia baiano-lusitana, em
Terra, de Caetano Veloso, com direito à citação do centenário Ary Barroso, de
Na Baixa do Sapateiro. O errante navegante pula para o Pernambuco de Senival Bezerra em
Duda no Frevo, homenagem ao líder de umas das mais tradicionais e envenenadas bandas do carnaval pernambucano. O bandolim de Armandinho e o violão de José Paulo Becker soam quase como uma orquestra inteira, transportando os paralelepípedos do Paço Imperial para as ladeiras momescas de Olinda.
nadaO violonista Fábio Nin, do Tira Poeira, um dos mais aplaudidos grupos da nova safra de chorões do Rio, participa de
Lamentos do Morro (do seminal samba-jazzista Garoto), além da já citada
Noites cariocas.
Oceano, de Djavan, propõe um transatlântico de influências, com o bandolim de
Armandinho revolvendo o abismo entre tradição e pós-modernidade, distorcendo notas decibélicas à dolência do arranjo original.
Armandinho registra ainda
Taiane, de seu pai, Osmar Macedo, e
Sarajevo, dele, em parceria com Pepeu Gomes.
nadafonte:
Biscoito Finonadanada1- Apanhei-te, Cavaquinho
2- Taiane
3- Lamento do Morro
4- Noite Cariocas
5- Sarajevo
6- Santa Morena
7- Terra
8- Duda no Frevo
9- Assanhado
10- Oceano